quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Pequenos Holocaustos 2





Quando está tudo bem a luz é diferente. As manchas brancas no pára-brisas do carro fizeram-no sorrir. Já tinha amaldiçoado e praguejado demasiadas vezes, cabrões dos pombos.  Mas hoje sorriu, coitados dos animais, também precisam, se não, explodiam. Sorriu mais. Carregou no botão e o carro apitou duas vezes, estava aberto. Até o carro parecia sorrir, parecia que piscava o olho, um olho branco irregular branco de merda. Inspirou e sentiu-se mesmo bem-disposto. Caiu do céu e chegou muito rápido, dois segundo depois de chegar a luz desapareceu. Era amarela e caiu na perpendicular, um raio de luz amarelo. O parietal estalou, uma lata amarela a cair do oitavo andar tem esse efeito. Nos dois segundos até à escuridão lembrou-se da mulher, oito andares acima sentada na cozinha, uma dentada recortada na torrada. Lembrou-se do filho, três anos, um gargalhar puro que rimava com o castanho dos olhos. Lembrou-se da mão pequenina a segurar uma lata amarela, dizia atum. Caiu de costas na calçada, os olhos a subirem pelo prédio acima até à janela do oitavo andar. Uma mão pequenina aberta.





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